quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O vampiro de Vila Bela

                
                O crepúsculo foi caindo sobre o pequeno povoado de Vila Bela e com ele caia também o silêncio. O vilarejo, que outrora fora alegre, caia no mórbido suspense de quem seria a próxima vítima. As crianças foram postas em suas camas, antes mesmos das cinco horas da tarde, as portas foram fechadas ao avançar do crepúsculo. E, embora todos soubessem do que estava preste a acontecer, ninguém ousava comentar. A tensão sempre aumentava nos invernos.  A cada dez anos coisas estranhas aconteciam por ali, coisas sem explicações lógicas. Desaparecimentos inexplicáveis. O que restava eram apenas corpos, sem uma única gota de sangue. E dessa vez não seria diferente.

                   Não muito longe dali, adentrando as cavernas encontrava-se o responsável por tudo isso. A faixa dourada no horizonte avisava o início de mais uma caçada. O vampiro ergueu-se de seu esquife e sentiu a sede de sangue subir ao cérebro. Umedecendo os lábios, brancos e frios, espreguiçou-se num levantar de capa. Estava pronto.

                    Embora dez anos para um vampiro não fosse muito tempo, Victor sentia-se fraco, precisava comer. Além da fome de sangue, sentia fome de sexo. Ele inspirou fundo o gélido vento do inverno e ficou imóvel, esperando respostas. E elas vieram: encontrara sua vítima, a doce Mariane. Só teria que aguardar a hora certa. Era só aguardar.
                  Ao badalar do relógio da igrejinha, que marcava exatamente meia-noite, ele saiu à caça. A alguns quilometro dali, Mariane dormia como um anjo. Mal sabia ela o que a aguardava.

                - Mariane... - uma masculina e suave sussurrava em sua mente. - Venha até mim.

                Como se estivesse em transe, ela levantou-se e saiu sem que ninguém a visse. Cruzando o vilarejo, a moça caminhava sobre a neve como uma alma a vagar pelas madrugadas frias, usando trajes brancos, em direção à escura floresta. E na clareira à frente, iluminado pela luz da lua, Victor a esperava.

                Branco como cera e com os dentes afiados clamando por sangue, ele a tomou pela mão e a levou ao ninho preparado para os dois. A menina, com o olhar fixo e sem vida, deixava transparecer o medo escondido no profundo de seu ser. O suor do corpo do vampiro misturando-se com o suor do corpo da garota. E como em uma dança macabra ele lhe roubava a alma; o sangue tocando os lábios da criatura... Demônio e mulher num só corpo, num só espírito...
            O sangue rubro, que escorria pelo pescoço branco da menina, era o alimento proibido que o mantinha vivo. Victor era o último de sua espécie e tinha que esconde-se para continuar vivo. Isso não o impedia de alimentar-se de vítimas indefesas como a pobre Mariane.
            E o vampiro sugava com ferocidade cada gota de sangue, cada gota de vida...
            E estava terminado. Apenas a morte jazia sobre a face da doce Mariane. E ele pronto para mais dez anos de sono.

Um comentário:

Elton S. Neves disse...

Um conto bem escrito,mas poderia ter tido um final feliz,como alguém salvando a pobre Mariane e dando um fim no vampiro homicida. Sei que ficaria muito óbvio e poderia cair na mesmice,no entanto sei que tu Fernandez com teu talento poderia narrar-nos tal final de uma forma diferente e criativa.Abraços literários.

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