sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Sonhos são sonhos, somente



Sonhos são sonhos, somente!
Como um pássaro caído no quintal
Asa quebrada — requer cuidado!
E ao menor sinal de melhora,
Alça voo, vai embora
E, ingrato, nem diz obrigado,

Pois sonhos são sonhos somente!

Como uma senhora que anseia ser mãe
E pede aos céus em devoção
E quando, por fim, acontece — cuida e zela.
Porém, do nada, apaga-se qual frágil vela
Sem ao menos contemplar o rosto do filho,
Sua mais preciosa semente

Porque sonhos são sonhos, somente!

Como aquele amor guardado a sete chaves:
Amor puro, sem que ninguém o saiba.
E só tens atenção para ele
Pois no mundo não há amor que caiba
Em um coração já ocupado.
Porém esse tal amor nem te percebes
Pois ele próprio tem outro amor mais complacente,

Ah, sonhos são sonhos somente!

Se os tem, semeai-os com cautela.
Não lance em solo infértil tais sementes.
Alguns são vividos,
Outro, sonegados, esquecidos —

São sonhos, devaneios somente!

Alguns são plantados, regados com cuidado.
Mas em época de colheita, são ceifados, extraídos
Por outros rostos, outras histórias
Que chagam mansos, sorrateiramente,
Pois sonhos podem ser roubados

E no fim —não passam de sonhos, somente.

                         ***

* Poema publicado na coletânea poética Versania (2017).

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